Maria Rachadel de Lima

Maria Rachadel de Lima mudou-se para nossa cidade na década de 1940, acompanhando seu esposo, o soldado da Policia Militar Joaquim Horácio de Lima, que havia sido transferido para a exercer suas funções na Cadeia Pública de São Francisco do Sul. É tida como a  primeira mulher a exercer a função de carcereira no Estado de Santa Catarina

Segundo o relato de sua filha, a Sra. Luíza Tavares Feder, o primeiro emprego de sua mãe na cidade teria sido como lavadeira do então Juiz da Comarca, Dr. Marcílio Medeiros, que posteriormente lhe conseguiu um emprego na Cadeia Pública da Cidade. Mas ela queria mais, o tempo passou, e Maria começou a aproveitar as suas horas vagas para estudar e em 1967, fez um concurso e onde passou, sendo nomeada para a função de carcereira, assumindo o comando da Cadeia Pública, que funcionava no prédio onde hoje funciona o Museu Histórico Prefeito José Schmidt.

Maria, segundo comentários de quem a conheceu ‘’era uma mulher correta, de bom coração, porém muito rigorosa com o cumprimento de suas funções e a disciplina na cadeia pública’’.

Certa vez, segundo sua filha Luíza, um criminoso denominado ‘’ Tristão’’, proveniente de Curitiba,  teria sido preso ao assaltar uma boate local (vestido de padre!!). Algumas horas após a prisão, por volta das 23 horas, um homem apresentou-se, identificando-se como advogado do preso, solicitando visitar o cliente.

Como o horário era fora do horário previsto para visitas, o advogado foi impedido de entrar, e o mesmo, inconformado com o fato, apesar da hora avançada, procurou o juiz da cidade para exigir seus direitos como advogado. O Juiz atendendo o apelo do advogado dirigiu-se a cadeia solicitando a ela permitir a visita do advogado. Contudo, Maria era dura na queda, e diante da insistência do juiz, ela disse que não aceitaria que passassem por cima de sua ordem, amea-çando entregar seu cargo ao juiz. Dado o impecável histórico de trabalho dela, o juiz reconsiderou a situação e o advogado só viu seu cliente no dia seguinte, durante o habitual horário de visita dos detentos.

Outro caso curioso foi o caso do detento conhecido pela alcunha de ‘’ Fininho’’, que havia fugido, após serrar um buraco de 30 x 25 cm entre as grades da carceragem. Após um tempo o bandido foi recapturado, sendo obrigado por ela a voltar para sua cela pelo mesmo buraco por onde havia fugido.

Mas como dissemos anteriormente ela tinha um lado muito humano, que se preocupava com o bem-estar de alguns dos detentos, como no caso de um preso chamado Orly, preso por ter assassinado a facadas sua empregada de 21 anos. Maria ficou com pena do detento que havia se arrependido e ficado muito perturbado depois de tão brutal assassinato, dando a ele diversos livros espíritas para acalmar seu tormento.

Um ano depois a cadeia pública foi desativada, passando a funcionar a partir de 1968, na nova cadeia pública construída na Alameda Ipiranga, onde Maria até aposentar-se na década de 1970.

Texto de Luiz Augusto Ozório com declarações de Luíza Tavares Feder, filha de Maria Rachadel de Lima.

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